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Conferência debate ações para enfrentar a seca no semiárido

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Edson Duarte (centro): "Mobilizar comunidades e governos locais em projetos que recuperem o solo e a capacidade produtiva é estratégico"

O ministro do Meio Ambiente, Edson Duarte, defendeu, nesta segunda-feira (26), a importância de um esforço político permanente no combate à desertificação no semiárido brasileiro.

“Mobilizar as comunidades e os governos locais em projetos que recuperem o solo e a capacidade produtiva é estratégico do ponto de vista econômico, social e ambiental”, disse o ministro, na abertura da Conferência Nacional de Neutralidade da Degradação da Terra:

Estratégias, Resultados e Perspectivas, promovida pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), hoje e amanhã, em Brasília-DF.

O objetivo da conferência é promover o desenvolvimento rural sustentável e a adaptação de atividades agrícolas à mudança do clima na região semiárida do Brasil, por meio da estratégia de Unidades de Recuperação de Áreas Degradadas e Redução da Vulnerabilidade Climática (Urad). “A Urad trabalha para resgatar a capacidade produtiva em regiões atingidas pela seca”, enfatizou Edson Duarte.

Ele também assinou um Acordo de Cooperação Técnica entre o MMA e o município de Santo Antonio de Lisboa (SE) para a elaboração de um plano municipal de combate à desertificação.

“Estamos recuperando áreas degradadas para que se tornem produtivas, deixando na comunidade uma ação produtiva sustentável. Entre elas, a integração lavoura-pecuária-floresta, que permite a recuperação do solo e incrementa a capacidade de produção; e o sistema agroflorestal, que explora a cobertura vegetal nativa sem fazer corte raso”, explicou o diretor de Desenvolvimento Rural Sustentável do MMA, Valdemar Rodrigues.

O evento é uma parceria do MMA com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD). Participaram da mesa de abertura as representantes da UNCCD, Aurelie Lhumeau, e do PNUD, Rose Guedes; a vice-governadora do Piauí, Margarete Coelho; o secretário de Meio Ambiente do estado do Ceará, Arthur Bruno; o prefeito de Santo Antonio de Lisboa (PI), Wellington Carlos; e o diretor-geral do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Denocs), Angelo Guerra. 

Comunitários

O técnico em agropecuária Egídio dos Santos Neto, que participou da implantação da Urad no município de Canindé de São Francisco, no alto sertão de Sergipe, pela ONG Centro Dom José Brandão de Castro, conta como foram desenvolvidos os três eixos da estratégia: ambiental, social e produtivo.

“Fizemos 35 barragens de base zero, ou seja, barragens de pedra para conter a erosão (vossorocas), e 21 cordões de pedra. Assim recuperamos nascentes e enchemos reservatórios. No eixo produtivo, usamos a integração lavoura-pecuária-floresta, plantando gliricídia, palma, milho e feijão. Também substituímos os fogões da comunidade por fogões ecológicos, que economizam lenha e não emitem fuligem. Construímos cisternas e reformamos banheiros, melhorando o saneamento básico das comunidades”, explicou. A glicirídia é uma espécie rica em nitrogênio (benéfico para o solo), que serve de alimentação para o gado.

A representante da ONG Sociedade de Apoio Socioambientalista e Cultural de Sergipe, Daniela Bento Alexandre, coordenou a Urad no Assentamento Florestan Fernandes e no quilombo Serra da Guia, em Sergipe. “Associar o social e o produtivo ao ambiental tem sido muito importante para que as comunidades se mobilizem e apostem nessa estratégia. Além disso, a Urad provocou os municípios a elaborem seus planos de combate à desertificação. Já temos dois, de Poço Redondo e Canindé”, contou Daniela.

A estudante Deyse Souza, moradora do Assentamento Florestan Fernandes, deu um depoimento sobre a contribuição humanitária da Urad, para além dos números. “A nascente me tocou de um jeito surreal. Nunca tinha visto uma. Depois do projeto, fiquei maravilhada. A nascente é uma vida que dá vida a outras vidas”, poetizou.

Desertificação

A desertificação e degradação da terra, potencializada pelos efeitos da seca, é um dosmais graves problemas ambientais do Brasil. Na região semiárida, o fenômeno provoca prejuízos ambientais, econômicos e sociais. Para enfrentar a questão, o governo instituiu a Política Nacional de Combate à Desertificação, Lei nº 13.153, em 2015.

No Brasil, a área suscetível aos processos de desertificação encontra-se na região semiárida e representa 18% do território nacional. Abriga 29% da população do país, o que significa 34,5 milhões de habitantes, sendo 8,6 milhões moradores da zona rural.

A estratégia Urad associa ações ambientais, sociais e produtivas, envolvendo a participação das comunidades na recuperação de nascentes, na contenção de processos erosivos, construção de fogões ecológicos, unidades sanitárias, cisternas e uso da integração lavoura-pecuária-floresta, entre outras ações.

Artur  Hugen, com Letícia Verdi /Ascom MMA/Foto: Gilberto Soares/MMA