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Maconha virou negócio de banqueiro, diz Marcelo Tognozzi

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Cannabis no Brasil é ilegal, mas não há pena de prisão para uso pessoal desde 2006

O governo brasileiro resiste. A ala mais conservadora da sociedade também. Mas já faz tempo que a maconha virou um negócio de banqueiros e grandes investidores internacionais como os bilionários George Soros e Sean Parker, um empresário de 40 anos com patrimônio de 2 bilhões de dólares.

Três dos maiores bancos espanhóis –BBVA, Bankinter e Caixa– já possuem grandes investimentos em empresas produtoras e processadoras de maconha, a chamada indústria da cannabis. Em fins de novembro de 2017, o BBVA comprou por 1 milhão de Euros 58 mil ações do grupo canadense Canopy Growth, maior produtor de cannabis do mundo.

No fim do ano passado a empresa multiplicou por 3 seu valor em bolsa. Na mesma época, a Aurora Cannabis comprou por 1 bilhão de dólares a concorrente Canimed Therapeutics. Banqueiros sentem de longe o cheiro dos lucros. Em 2010 Soros escreveu um artigo para o Wall Street Journal (“Porque eu apoio a legalização da maconha”), no qual elogiou o ex-presidente Fernando Henrique, entre outros líderes, como um dos apoiadores da legalização. O bilionário tem feito lobby para a legalização do plantio para uso medicinal e recreativo no Brasil e em outros países tanto da Europa como da América Latina. Usa para isso sua ONG, a Open Society, ou outras sob sua influência como a Viva Rio.

Lobistas de companhias americanas e canadenses já atuam por aqui de forma superprofissional. No Colorado, o advogado Vincent Sederberg possui um dos maiores escritórios de lobby com clientes como associações de produtores e indústrias. Dá consultoria e busca sócios. Na Europa ele já atua na Espanha, em parceria com Bernardo Soriano, dono de uma banca que atua a favor da legalização da maconha para uso recreativo na Espanha.

A indústria de cannabis nos Estados Unidos e Canadá já emprega cerca de 200 mil pessoas e fatura anualmente cerca de 20 bilhões de dólares. Deve chegar aos 200 bilhões em 2026 de acordo com estimativas do Banco de Montreal.

Estes números comprovam que a maconha já é um setor do agronegócio reconhecido mundialmente e com ações cotadas nas principais bolsas de valores. O uso recreativo não é o principal negócio. O que dá dinheiro de verdade são os remédios, óleos, bebidas, alimentos e até cosméticos que utilizam canabidiol, o princípio ativo da maconha.

Esta é uma discussão que incomoda os conservadores, igrejas e órgãos de segurança, mas é preciso encarar o assunto de frente. Condenada por décadas e décadas como uma droga distribuída pelo crime organizado, pelas bocas de fumo das favelas, a maconha ganhou up grade social e econômico, transformada em xodó de banqueiros e bilionários. Ben Klover, um dos herdeiros da destilaria que produz o bourbon Jim Bean, um dos mais famosos do mundo, já anunciou o lançamento de um produto “batizado” com cannabis. Imagine o efeito disso.

Os americanos podem ser muito conservadores para certos costumes, mas são para lá de avançadinhos quando o assunto é dinheiro. Já entenderam –certamente pesquisaram a exaustão hábitos, necessidades e gostos dos consumidores do atacado e varejo– o tamanho do negócio e vão atropelar.

Um sintoma do que vem por aí em termos de pressão e lobby pela aprovação do plantio de maconha para uso medicinal no Brasil é a cotação de algumas empresas do ramo na Bolsa de Chicago. No fechamento da última sexta-feira, uma ação da Arena Farma valia 47 dólares. O papel da Innovative Industrial bateu 77,8 dólares e o da GW Pharma 114,50 dólares.

O governo precisa de uma boa estratégia para negociar com maior vantagem possível a entrada do Brasil num mercado que crescerá cada vez mais. Negar que a questão econômica tende a prevalecer sobre os costumes, especialmente quando se trata de produção de medicamentos, não é a melhor política.

Fonte: Marcelo Tognozzi/Poder 360/Foto: Alexodous/Creative Commons