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Ouvido em CPI das Fake News defende ‘jornalismo de direita’ e diz que não recebe dinheiro do governo

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O blogueiro e jornalista Allan dos Santos ao lado de sua advogada, Dênia Érica Magalhães

Brasília (06/11/2019), Ouvido nesta terça-feira (5) pela CPI Mista das Fake News, que investiga notícias falsas nas redes sociais e assédio virtual, o jornalista Allan dos Santos, do blog Terça Livre, defendeu a liberdade de opinião e disse que “o jornalismo de direita quer existir, mas está sendo calado”. Ele foi convocado pela CPI por requerimento do deputado Rui Falcão (PT-SP), que o apontou como um grande disseminador de notícias falsas na internet, inclusive para beneficiar o presidente da República, Jair Bolsonaro, desde a campanha eleitoral de 2018. Allan alegou que são "as grandes empresas de comunicação que promovem desinformação".

O jornalista informou que criou o site em 2014 para “vencer o comunismo, as Farc [forças revolucionárias colombianas] e todo o trabalho de guerrilha armada no Brasil”. Allan reiterou seu apoio a Bolsonaro, mas negou receber financiamento do governo. Ele chegou, inicialmente, a concordar com pedido da relatora da CPI, deputada Lídice da Mata (PSB-BA) para autorizar a quebra do seu sigilo bancário e fiscal. Porém, voltou atrás ressaltando que “o ônus da prova é de quem acusa”.

Allan disse ao deputado Rui Falcão que recebe doações por meio das redes sociais e que não há como identificar quem contribui, mas que paga impostos sobre esse valor. No YouTube, o canal Terça Livre TV tem, atualmente, 629 mil inscritos.

—  Sou dono do maior portal conservador da América Latina e não recebo nenhum centavo do governo — completou.

"Gabinete do ódio"

Quando questionado pelo líder do PT, senador Humberto Costa (PE) sobre sua relação com Tercio Arnaud Tomaz, assessor da presidência da República, o jornalista preferiu manter o silêncio. Tercio seria um dos comandantes do chamado “Gabinete do Ódio”, dentro do Palácio do Planalto, supostamente responsável por disseminar fake news e ataques a adversários políticos a partir do governo.

O senador sugeriu a Allan que abra também o sigilo das suas redes sociais e alertou os parlamentares presentes na audiência sobre o “linchamento virtual” e a “destruição de reputações” promovidos por blogs como o Terça Livre.

— Se nós não desmontarmos essa máquina, estaremos sujeitos ao que vários sofreram na última eleição — disse Humberto Costa, referindo-se à notícia falsa veiculada no site sobre suposto financiamento milionário de facção criminosa à campanha do PT.

O jornalista ainda se negou a responder perguntas do deputado Alexandre Frota (PSDB-SP), por se considerar ofendido após ser chamado de “uma espécie de Sônia Abrão digital”. O parlamentar queria saber o motivo de Allan replicar postagens de perfis no Twitter conhecidos por espalhar fake news e fazer ataques a críticos do governo.

Quando respondeu às perguntas da deputada federal Luizianne Lins (PT-CE) confirmou que uma das profissionais que compõem a sua equipe como freelancer, a jornalista Fernanda Salles Andrade, também é assessora do deputado estadual Bruno Engler (PSL), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

LGBTs

O jornalista também foi inquirido sobre outras notícias divulgadas pelo Terça Livre, entre elas a que acusava grupos LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) de aprovarem a pedofilia.  Fato para o qual Allan disse ter “provas contundentes”, “não apenas no Brasil como no mundo”.

Também foram questionadas outras publicações do site, como a suposta internação do jornalista norte-americano Glenn Greenwald com "infarto causado por overdose de cocaína"; e a atribuição à jornalista Constança Rezende de postagem falsa quanto ao "Brasil ter virado uma ditadura” após o assassinato da vereadora Marielle Franco.

"Vítima"

Allan lembrou que deve resguardar o sigilo das fontes e que só responderá em juízo aos citados diretamente nas matérias. Além disso, disse que ele próprio já foi vítima de notícias falsas, como a de que teria acompanhado Jair Bolsonaro em viagem ao exterior no avião presidencial. Também negou que tenha carro de luxo e mansão com aluguel pago pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PLS-SP).

O próprio deputado se pronunciou e defendeu o jornalista. Ele disse ter sido acusado de usar dinheiro do fundo partidário para pagar a sua lua-de-mel e atribuiu a notícia falsa à “perseguição da esquerda”.

— A esquerda domina jornais, universidades, cinema, sindicato e movimentos sociais. Só tem um flanco que a esquerda não domina, que é a internet — afirmou Eduardo Bolsonaro.

Críticas

A deputada Caroline de Toni (PSL-SC) também  defendeu Allan dos Santos. Ela criticou o uso do termo “milícia” para se referir à mobilização na internet de pessoas que se alinham ao pensamento bolsonarista. E, com outros deputados governistas, criticou a “instrumentalização” da Comissão.

— O que a CPMI quer é calar a voz do povo. Qualquer pessoa pode se reunir digitalmente, são discussões digitais, sem impedimento para suas ideias e vontades. Esta comissão é para tentar criminalizar e perseguir pessoas — disse.

As críticas contra a CPI mista foram respondidas pela relatora. Lídice da Mata enfatizou o papel da comissão é de investigar quem produz, distribui e financia as fake news.

— Alguns aqui contestam o que é a ação da CPMI e alguns insistem em caracterizar as fake news como apenas uma fofoca, um boato. Não é isto. Não há essa ingenuidade nas fake news. O seu conceito parte do princípio da existência do dolo, da criação de uma notícia falsa com o objetivo de prejudicar. E que, portanto, deve ser combatida — afirmou Lídice.

Fonte: Agência Senado/Foto: Roque de Sá/AS