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Brics ainda não disse a que veio, avaliam debatedores

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Essa foi uma das avaliações apresentadas pelos três convidados para a audiência pública interativa promovida pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado Federal

Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul são países extremamente diferentes econômica, histórica e culturamente, e a aliança entre essas nações, batizada de Brics, ainda não tem objetivos claros, apesar de sua trajetória ter começado em 2006.

Essa foi uma das avaliações apresentadas pelos três convidados para a audiência pública interativa promovida pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado Federal na noite desta segunda-feira (18).

O evento foi o 12º painel do ciclo de debates “O Brasil e a ordem internacional, estender pontes ou erguer barreiras?”, de iniciativa do presidente da CRE, senador Fernando Collor (PTC-AL), realizado quinzenalmente pela comissão. Também participaram do encontro os senadores José Pimentel (PT-CE) e Pedro Chaves (PSC-MS) e a deputada federal Bruna Furlan (PSDB-SP), presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados.

Juntos, os países que integram o Brics correspondem por 42% da população mundial, 23% do produto interno bruto (PIB) do planeta e 53% das reservas econômicas mundiais, informou o professor do departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB) Renato Baumann. Ele acrescentou que China, Rússia e Índia são possuidoras de armamentos nucleares. A China, avaliou o professor, é muito mais forte economicamente que os demais membros do Brics, sendo atualmente a principal parceira comercial tanto de Brasil e África do Sul quanto de Índia e Rússia.

Renato Baumann acrescentou que, até o momento, as parcerias e acordos firmados dentro do grupo, principalmente por meio do banco de desenvolvimento criado pelo Brics, são referentes à geração de energias alternativas. O professor da UnB também destacou o interesse da China na  ampliação da aliança, com a possível entrada de países como México, Guiné, Egito e Tailândia.

- É difícil dizer qual o objetivo do grupo. Será que o Brasil sabe o que quer dos Brics? – questionou Baumann ao lembrar que todos os membros do Brics têm múltiplos acordos com países de suas regiões, o que dificulta a consolidação do grupo como um bloco econômico.

O professor do departamento de História da Universidade de São Paulo (USP) Angelo Segrillo afirmou que o Brics não é um bloco econômico nem uma entidade jurídica institucionalizada. Para o professor, os países que compõem o grupo são nações grandes e hegemônicas em suas respectivas regiões, porém têm entre si disparidades econômicas e geopolíticas, o que dificulta as relações, principalmente econômicas. Esses países, pontuou o professor, acabam por preferir fazer acordos e negócios com países próximos de suas regiões de influência.

Já o secretário-adjunto especial da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Marcos Degaut, afirmou que o Brics não é um bloco comercial nem uma aliança geopolítica, mas pode ser visto como um instrumento importante de cooperação entre essas nações.

Para ele, a China domina o Brics economicamente, pois a economia chinesa corresponde ao dobro da soma das economias dos outros quatro membros. O Brasil atualmente é muito dependente economicamente da China, que é responsável por 25% do saldo comercial brasileiro, disse. Degaut afirmou ainda que o Brasil vem perdendo espaço em mercados importantes como o norte-americano e as exportações brasileiras vêm diminuindo inclusive para Rússia, Índia e África do Sul. Em sua opinião, o Brasil ainda não sabe o que quer do Brics.

O presidente da CRE também apresentou aos convidados questões sobre o atual impasse das relações da Coreia do Norte com o restante do planeta e leu algumas perguntas enviadas por internautas por meio do portal e-Cidadania, que foram comentadas pelos palestrantes.

O 13º painel será realizado em 2 de outubro, às 18h, e terá como tema “O lugar do Brasil em um mundo de transformações”.

Artur Hugen, com Agência Senado/Foto: Roque de Sá/AS