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De SC ao RS: rota Caminhos da Neve mais perto de se tornar realidade

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Quando chega a neve as serras gaúcha-catarinense se tornam uma paisagem integrada

Um dos lugares mais bonitos do Brasil, a região serrana que fica na divisa entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul está mais perto de ganhar uma ligação pavimentada que faz jus e agrega valor ao potencial turístico dos dois Estados. A rota Caminhos da Neve (BR-438), antevista como uma redenção por prefeitos, empresários e moradores da região, passou a ter caráter legal a partir da recente aprovação, pela Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo do Senado, do projeto de lei que torna oficial o roteiro rodoviário cujo trecho mais atraente fica entre os municípios de São Joaquim (SC) e Bom Jesus (RS).

Os defensores do projeto visualizam o roteiro como uma ligação de grande potencial entre dois polos turísticos de excelência – Florianópolis, um dos grandes destinos do país, e Gramado, a pérola da serra gaúcha. Nascido em São Joaquim, o jornalista aposentado Rogério Martorano, que lançou a ideia dos Caminhos da Neve em 1993, estima que a estrada, ainda com trechos inconclusos, encurtará em mais 100 quilômetros a distância rodoviária entre os dois pontos. Hoje, há oito quilômetros de chão batido em território catarinense e cerca de 30 quilômetros sem asfalto no lado do Rio Grande do Sul.

Além dos interesses econômicos envolvidos (os mais otimistas falam num potencial para atrair 700 mil turistas por ano), o projeto de pavimentação integral do trecho empolga seus defensores por causa das belezas naturais que margeiam a estrada. “É uma das paisagens mais lindas do mundo”, diz Martorano, que quando trabalhou nos Diários Associados, grupo mantido pelo jornalista Assis Chateaubriand, no final da década de 1950, publicou pela primeira vez uma reportagem sobre a neve em São Joaquim numa revista de circulação nacional (“O Cruzeiro”).

Os campos ondulados, as fazendas, os rios, as cachoeiras, as aves e uma flora peculiar fazem da região um atrativo natural que hoje está restrito porque nem todos os motoristas se dispõem a submeter seus veículos a uma estrada de terra batida. Considerando que o roteiro Caminhos da Neve abarca boa parte das Serras catarinense e gaúcha, o rol de atrações inclui tudo o que é oferecido por cidades próximas como Urubici, Urupema, Bom Jardim da Serra, São José dos Ausentes, Cambará do Sul, Canela e Gramado.

O trecho, que Rogério Martorano chama de “caminho turístico de cinema”, tem num raio de poucos quilômetros várias pousadas, parques ecológicos, cânions, picos, locais propícios para cavalgadas e a prática de esportes radicais (em moto, bike e veículos 4×4), observação de pássaros e outros tipos de aventuras. Na fase mais aguda do inverno, a possibilidade de ver a neve caindo é mais um chamariz para a região.

Quatro décadas de percalços

A ideia de pavimentar todo o trajeto dos Caminhos da Neve enfrentou muitos percalços nas últimas quatro décadas. Rogério Martorano conta que desde o governo Vilson Kleinübing (1991-1994) vem insistindo no assunto, sem alcançar resultados na velocidade esperada. De lá para cá, sete chefes do Executivo (sem contar os vices que assumiram temporariamente) ouviram a mesma reivindicação.

Artur, Jaziel e Wirto

É preciso acrescentar que não só o jornalista Rogério Martorano vem insistindo nesta integração, mas é importante lembrar que o também jornalista e joaquinense Artur Hugen, que divulgou Gramado, durante 30 anos,  em todo Brasil, captando eventos para a cidade. Realizou mesas redondas com transmissão ao vivo de eventos turísticos, de diversas cidades brasileiras, pela Rádio Excelsior e Rádio Clube de Canela,

E, mais importante captando os eventos para os próximos anos para que fosse realizado em Gramado. É importante destacar o patrocínio do Hotel Laje de Pedra, que internacionalizou o turismo na Serra Gaúcha e da nossa inesquecível Varig. Os empresários hoteleiros se encarregavam das negociações. Também destaca-se o trabalho de Jaziel Aguiar Pereira e do visionário Wirto Schaffer que sempre estiveram mobilizados na integração SC-RS, além de outros anônimos abnegados.

Amin, Kleinubin e Luiz Henrique da Silveira

Esperidião Amin asfaltou o trecho entre a BR-282 e Urubici, Kleinübing fez a parte dali até São Joaquim, e Luiz Henrique da Silveira pavimentou parcialmente o percurso até o rio Pelotas, na divisa com o Rio Grande do Sul. Na gestão de Raimundo Colombo foram feitas melhorias pontuais na estrada, e Carlos Moisés da Silva projetou a nova ponte das Goiabeiras, que será inaugurada até julho deste ano.

“Quando tudo ficar pronto, teremos vencido uma batalha de 30 anos”, diz o jornalista. Ele é filho de César Martorano, o fazendeiro que salvou a vida de Assis Chateaubriand quando este, em fuga das forças federais para o Sul do Brasil, em 1930, refugiou-se em São Joaquim e foi hostilizado por moradores locais, desconfiados com a presença de um estranho forasteiro na cidade.

Depois, morando na casa de Chateaubriand e trabalhando nos seus jornais, foi o pioneiro em divulgar as belezas de Santa Catarina, quando o país ainda desconhecia a neve, as praias, a história e o potencial industrial do Estado. Em “O Jornal” e na revista “O Cruzeiro”, Rogério Martorano emplacou páginas e páginas e foi apelidado pelos colegas de “admirável homem das neves”.

Tramitação no Congresso

A senadora Ivete Appel da Silveira, relatora do PL 1.931/2019, que criou o Roteiro Turístico Caminhos da Neve, diz que a pavimentação definitiva da BR-438 será muito importante para a economia da região, devendo gerar oportunidades de emprego e renda por conta dos investimentos futuros do trade turístico. São vilas e cidades que têm peculiaridades na gastronomia, opções de hospedagem e diferenciais que as áreas de altitude oferecem em todas as épocas do ano. Artesãos, pequenos produtores rurais e agências de turismo também tendem a ganhar com a conclusão da estrada.

“A Serra catarinense, e São Joaquim em particular, são lugares maravilhosos”, afirma Ivete da Silveira. “A região das Serras, nos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, tem flora e fauna específicas, além de monumentos históricos, culturais e ambientais de grande valor turístico”. Agora, o projeto, que é terminativo, vai para votação em plenário e sanção. A senadora diz que não há prazo para a votação, mas espera que seja dentro de pouco tempo.

O trecho contemplado (BR-438, extensão da SC-114 e da RS-110) tem 161 quilômetros como eixo central e foi federalizado em 2018 com o objetivo de facilitar a destinação de recursos para a pavimentação. Além do potencial turístico, a região também é uma grande produtora de frutas (como a maçã), tem vinícolas que estão entre as melhores do Brasil e se destaca na produção de itens de origem animal (queijos, embutidos).

Muitos moradores são de origem alemã, italiana e portuguesa (açorianos, na maioria) e preservam suas tradições, a ponto de realizar festivais culturais e festas das colheitas dos produtos que cultivam. O jornalista Rogério Martorano lembra que sobrevoou a região com Assis Chateaubriand, nos anos de 1960, e que desde então sonhava com uma estrada que integrasse o planalto dos dois Estados sulinos. Aos 83 anos, seu desejo está cada vez mais próximo de se concretizar.

De Florianópolis a Gramado – Cidades na rota e no entorno

Em Santa Catarina – Anitápolis, Alfredo Vagner, Bocaina do Sul, Bom Jardim da Serra, Bom Retiro, Lages, Painel, Rancho Queimado, Rio Rufino, São Joaquim, Urubici e Urupema.

No Rio Grande do Sul – Bom Jesus, Cambará do Sul, Canela, Gramado, Jaquirana, Monte Alegre dos Campos, Nova Petrópolis, São Francisco de Paula, São José dos Ausentes e Vacaria.

Linha do tempo

12/02/1993 – Criação da rota Caminhos da Neve, por meio de uma ata com assinatura de lideranças do RS e SC

26/04/1996 – Na abertura da 9ª Festa Nacional da Maçã, em São Joaquim, prefeitos da região pediram ao ministro dos Transportes a pavimentação da rodovia

04/08/1998 – Os dois Estados lavraram uma ata definindo o traçado pelas comunidades de São Francisco Xavier (município de São Joaquim) e Santo Inácio (Bom Jesus)

29/09/2004 – O governo de Santa Catarina licitou o projeto de engenharia e projetou a rodovia até a ponte das Goiabeiras, no rio Pelotas

10/09/2006 – O Batalhão do Exercito iniciou a pavimentação do trecho catarinense

11/2008 – O Dnit implementou trevo de interseção e sinalização na localidade de Rondinha na BR-285

15/12/2011 – O governo do Rio Grande do Sul inaugurou o penúltimo trecho da rota Caminhos da Neve que uniu os Campos de Cima da Serra à Região das Hortênsias

01/09/2016 – O governo gaúcho contratou o estudo ambiental e econômico, cumprindo novas instruções do Tribunal de Contas do Estado

26/10/2017 – O governador de SC, Raimundo Colombo, sancionou a lei 17.295, de autoria do deputado estadual Milton Hobus, que institucionalizou a rota Caminhos da Neve em SC

24/04/2018 – O governador do RS sancionou a lei 15.155, de autoria do deputado estadual Gabriel Souza, que institucionalizou a rota Caminhos da Neve no Estado

05/07/2018 – O presidente Michel Temer promulgou a lei 13.689, de autoria do deputado federal Alceu Moreira, para incluir a rodovia no SNV (malha federal)

06/11/2018 – Deputados e senadores de Santa Catarina aprovaram a destinação de R$ 40 milhões para a conclusão do trecho catarinense

21/11/2018 – O Dnit criou o número BR-438 como rodovia planejada, até que RS e SC entregassem a documentação.

11/04/2023 – Aprovação, na Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo do Senado, do projeto de lei que cria o Roteiro Turístico Caminhos da Neve, com relatoria da senadora Ivete da Silveira.

Reprodução da matéria originalmente publicada ND+ com texto de PAULO CLÓVIS SCHMITZ – ESPECIAL PARA O ND, FLORIANÓPOLIS – Fotos: Divulgação – Edição: artur hugen