O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem uma agenda repleta de encontros com empresários nesta segunda-feira (12), em Pequim, onde cumpre visita oficial nos próximos dias.
Segundo o Palácio do Planalto, Lula se encontrará com os CEOs (diretores executivos) de duas grandes empresas chinesas. A primeira reunião será com Lei Zhang, da Envision Energy, que produz turbinas de energia eólica. Em seguida, Lula recebe Cheng Fubo, da Norinco, corporação industrial que atua nos setores de defesa, automotivo, fabricação de máquinas, produtos químicos, eletrônicos, entre outros.
Essas reuniões ocorrerão ao longo da manhã, no hotel onde Lula está hospedado, noite de domingo no horário oficial de Brasília.
Na parte da tarde de segunda, ainda madrugada no Brasil, Lula prossegue a agenda empresarial participando de encontro com representantes de empresas do setor de saúde, seguido da assinatura de acordos. No fim do dia, o presidente brasileiro participa do encerramento do seminário Brasil-China, que reúne empreendedores de ambos os países.
Na terça-feira (13), a visita oficial terá continuidade com a participação do presidente brasileiro na cúpula de chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) com o governo chinês. A Celac é a única organização que reúne praticamente todos os países latino-americanos.
No mesmo dia, cumprindo visita de Estado, Lula terá encontros com as principais autoridades chinesas, entre os quais o presidente da Comissão Permanente da Assembleia Nacional Popular, Zhao Leji, e o primeiro-ministro da China, Li Qiang, e, finalmente, uma reunião ampliada com o presidente da China, Xi Jinping, no Grande Palácio do Povo. Ao menos 16 acordos entre os dois países devem ser assinados na ocasião.
Lula, a primeira-dama Janja da Silva e uma comitiva de diversos ministros chegaram à China na noite de sábado (10), depois de visita à Rússia, onde o chefe do governo brasileiro de encontrou com o presidente Vladimir Putin, e participou da cerimônia de 80 anos da vitória da União Soviética sobre a Alemanha nazista, pondo fim à Segunda Guerra Mundial na Europa.
A previsão é que o presidente volte ao Brasil na quarta-feira (14).
Agência pública deve ser contraponto a jornalismo de mídia estrangeira
Avaliação é de especialistas em especial de 35 anos da Agência Brasil
A mídia pública brasileira, que inclui a Agência Brasil, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), deve contribuir como contraponto à visão dominante na cobertura jornalística das principais agências internacionais de notícias, que acaba sendo reproduzida pela mídia empresarial do Brasil.
A avaliação é de professores e especialistas em comunicação que avaliaram a importância da Agência Brasil na cobertura internacional em meio ao aumento das tensões geopolíticas no mundo.
A principal agência pública de notícias do país completou 35 anos no último dia 10 de maio.
Para os analistas, o papel da mídia pública nacional é reportar os acontecimentos globais sob o ponto de vista do Brasil enquanto um país da periferia do sistema global, também chamado de Sul Global.
O professor André Buonani Pasti, que pesquisa agências de notícias internacionais, ressalta que as principais empresas jornalísticas do mundo mantêm vínculos com os Estados a que pertencem.
“A gente está falando de interesses geopolíticos vinculados aos Estados a quais essas empresas pertencem. Esses empresários são mobilizados nos momentos de contexto político tenso que movimentam o cenário internacional e estão conectados diretamente com alguns Estados-nação”, diz o professor da Universidade Federal do ABC (UFABC).
Pasti cita, por exemplo, a cobertura “amplamente pró-Israel, no conflito Israel-Palestina, assim como uma cobertura quase de propaganda da Guerra da Ucrânia. Isso não ajuda a informar. É um problema”.
Essa avaliação é reforçada pelo jornalista brasileiro Matias M. Molina, em seu livro Os Melhores Jornais Do Mundo, no qual destaca o papel dos principais jornais dos Estados Unidos (EUA) - como o New York Times e o The Washington Post - no apoio às guerras do Vietnã e do Iraque. Segundo ele, esses periódicos reproduziram a visão oficial da Casa Branca, inclusive sustentando a falsa acusação de que o Iraque mantinha armas de destruição em massa.
O professor de jornalismo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) José Arbex Junior avalia que a cobertura internacional da mídia empresarial do Brasil utiliza as “lentes” das principais agências estrangeiras de notícias, em especial, dos Estados Unidos e da Europa.
“Com essas lentes, eu, como brasileiro, estou olhando o mundo de uma forma completamente distorcida porque uso óculos que não servem para mim. O que eu, como brasileiro, tenho que entender sobre o mundo? Essa é a questão central colocada do ponto de vista de uma cobertura internacional”, destacou.
O professor de jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) Ivan Bomfim destacou que o jornalismo não é neutro e que ele vem carregado de valores construídos a partir de compreensões de mundo das empresas que o patrocinam.
“Nossa visão do mundo acaba sendo moldada pela mídia empresarial a partir do que vem das agências estrangeiras. É claro que esse material é retrabalhado nas empresas brasileiras. Só que esse conteúdo informativo é retrabalhado a partir de interesses econômicos e políticos”, destacou o também coordenador da Rede de Investigadores em Comunicação Internacional (RICI).
Segundo o professor José Arbex, a mídia empresarial do Brasil está comprometida com interesses de corporações econômicas e financeiras internacionais, o que influencia sua cobertura.
“O interesse dessa grande mídia está voltado para essas grandes corporações, que são empresas com as quais a Rede Globo, para citar um exemplo, mantém relações comerciais, financeiras, políticas e ideológicas. É em cima dessas relações que ela vai fazer a cobertura”, disse.
Para o professor de jornalismo José Arbex, a mídia pública tem condições de fazer uma cobertura diferente por não estar vinculada diretamente a interesses econômicos e estrangeiros.
“A mídia pública, exatamente porque ela não está comprometida com nenhuma grande empresa, tem muito mais independência e capacidade para fazer coberturas que não interessam do ponto de vista empresarial, mas que têm um grande interesse do ponto de vista nacional e popular”, comentou.
Segundo ele, a mídia pública tem condições, por exemplo, de apresentar o conflito de Gaza como um massacre perpetrado por Israel e uma limpeza étnica contra o povo palestino. "Os grandes veículos empresariais não reconhecem o genocídio na Palestina”, diz.
Para o especialista, é importante ter uma visão brasileira do cenário internacional, o que “não é a mesma cobertura que o europeu vai ter, nem a mesma cobertura de um veículo estadunidense”.
O fato de os demais veículos do Brasil, em especial os jornais locais, poderem reproduzir, gratuitamente, o conteúdo jornalístico da mídia pública reforça o papel central de uma cobertura internacional diferenciada, avalia o pesquisador da UFABC André Pasti.
“O essencial seria ter um bom investimento em uma agência pública forte para cobertura internacional conectada com redes de agências do Sul do mundo que tivessem esse contraponto em relação às agências estrangeiras”, acrescentou.
Em 2023, a EBC fechou acordo para parceria com Agência de Notícias Xinhua, da China, para troca de conteúdo, além de ter acordo com a China Média Group e a TeleSur, da Venezuela. Há ainda negociações para acordos com mídias de Angola.
O professor de jornalismo José Arbex citou, como exemplo de cobertura jornalística, o novo governo de Donald Trump, que tem ameaçado anexar o canal do Panamá, o Canadá, a Groenlândia, além de defender a expulsão dos palestinos da Faixa de Gaza.
“O que isso significa para o Brasil? Como eu, brasileiro, devo conduzir ou apoiar as medidas de política externa do país nesse contexto? Nossas alternativas, para isso, são o Mercosul, os Brics, temos como fazer parceria com a China, que quer fazer a Nova Rota da Seda”, afirmou.
O professor da UFGD Ivan Bomfim argumentou que, do ponto de vista do Brasil, como uma potência média sem grande poder militar e tecnológico, é mais interessante defender regras internacionais que sejam respeitadas por todos, e não que o mais forte prevaleça no cenário global, como tenta impor o presidente Trump.
“Quando a gente deixa essa compreensão de lado e passa a reproduzir que um país, por ser mais forte, pode se impor sobre os outros, estamos abrindo mão de uma visão que é de nosso interesse”, disse.
A possibilidade de a sociedade exercer alguma influência sobre a cobertura jornalística é, para o professor UFABC André Buonani Pasti, uma das principais diferenças entre a mídia pública e a empresarial.
“Uma mídia pública implica abrir o debate para participação da sociedade sobre os rumos da cobertura jornalística. Isso é fundamental. A diferença entre a mídia pública e a privada é essa possibilidade de ter algum nível de controle social sobre o debate”, destacou.
Segundo o especialista, o controle é no sentido de poder acompanhar, opinar e contribuir com a cobertura jornalística, a exemplo do que ocorria por meio do extinto Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), empresa da qual a Agência Brasil faz parte, junto com a TV Brasil e as rádios EBC, como a Rádio Nacional.
Em 2016, o presidente Michel Temer extinguiu o Conselho Curador com representantes da sociedade que opinavam, emitiam recomendações e faziam exigências à direção da EBC. No lugar, foi criado um Comitê Editorial que nunca foi instalado.
Em 2024, a EBC criou o Comitê de Participação Social e elegeu os representantes da sociedade. O novo colegiado e o Comitê Editorial aguardam a nomeação dos conselheiros pela Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República.
Fonte: Agência Brasil – EBC – Foto de Capa: Ricardo Stuckert-PR- postado por jornalista Artur Hugen
10 de Maio, 2025 às 16:08
09 de Maio, 2025 às 09:29